Receio de
retaliação, falta de entusiasmo por jornalismo investigativo e uma improdutiva
política de boa vizinhança, fazem com que a mídia do cerrado tenha pouco
interesse numa das figuras mais emblemáticas envolvidas no mensalão. Com barbas
que parecem eternamente de molho e um olhar de quem sobrevive à base de
calmantes, Delúbio Soares frequenta o noticiário local como estratégia de sua
escolha. De propósito, dá palpite em tudo excluindo suas peripécias no maior
escândalo do governo Lula.
Fiel aos que
controlam o poder no Partido dos Trabalhadores, é um passarinho mudo que jamais
soltou um único pio capaz de comprometer a cúpula do PT. É uma inabalável caixa
preta. Mesmo sendo réu por corrupção ativa e formação de quadrilha, e ao que
tudo indica prestes a ser condenado, jamais cedeu ao impulso de falar tudo o
que sabe.
Se abrisse a matraca
seria um Deus nos acuda. Segundo revelações imputadas a Valério, ele teria
anotado em uma caderneta todas as arrecadações “por fora” dadas ao esquema e ainda
desconhecidas no julgamento. Uma soma fantástica que chegaria a R$ 350 milhões
de reais.
Aos íntimos, a
mulher de Delúbio, membro do diretório nacional do PT, afirma que o marido é
uma espécie de macho para mais de metro e meio e sobre qualquer hipótese –
mesmo amargando cadeia – acrescentará uma vírgula além do que já foi dito.
Na ótica do lulopetismo,
ele é o “cerne da honestidade”. Não deixa de fazer sentido, visto que leva a
sério uma espécie de omertà capaz de proteger Luis
Inácio Lula da Silva. Com um sorriso a la Mona Lisa, é um goiano a
ser decifrado. É difícil deduzir quais são as vantagens pessoais que ele tira
fazendo um papel que ora lhe dá ares de mártir ora indica cinismo explícito.
O homem não parece
ter problemas de caixa, mas está longe de levar uma vida esnobe. Circula com
desenvoltura no circuito Goiânia - São Paulo e mantém escritório num dos
quadriláteros mais caros da capital paulista. Denominada como Geral Imóveis,
sua empresa é virtual em quase todos os sentidos. Segundo revelado pela Folha
de São Paulo, não existe um único imóvel anunciado pela firma.
Nos bastidores,
principalmente no circuito que envolve atividades das estatais, seu nome ainda
abre portas, janelas e frestas prestimosas. Discreto e eficiente ainda exerce uma
boa dose de influencia nos quadros da administração Pública Federal. Não mantém
amigos íntimos dispostos a revelar detalhes de sua vida a imprensa.
Ao contrário
de seu parceiro José Dirceu, que enriqueceu á luz dos holofotes e no epicentro
do escândalo, Delúbio não se esbalda no rega-bofe dos famosos. Se tiver mágoas,
sonhos inacabados, ódio, alegrias incontidas, ilusões ou rancores, somente ao
abrir a caixa preta alguém poderá descobrir. Por enquanto, não existe perito
capaz de tal proeza.
Rosenwal
Ferreira: Jornalista e Publicitário
Twitter:
@rosenwalF
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