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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O PMDB foi humilhado, e daí?

O PMDB que se delicia nas tetas do governo federal nem de longe lembra as honrosas atuações nas origens do MDB. Sempre disposto a engolir um pedaço do bolo administrativo, nas famosas benesses que acompanham cargos que respiram ares palacianos, o partido tornou-se vassalo de Lula numa submissão da causar asco. A bajulice foi tão escancarada que os caciques jogaram na latrina até princípios básicos democráticos que nortearam as raízes da agremiação. Fosse o contrário, a facção teria impedido, por exemplo, a entrada do neoditador Hugo Chávez no Mercosul.

Sem perceber que o estilo baba-ovo tem consequências, o PMDB demorou a notar que Lula considera a associação como uma espécie de “cosa da presidência”, cujas ações ele não precisa pedir, basta mandar. O interessante é que depois de anos aceitando o papel de garota de programa, com agrados, mimos e exigências presumíveis, a cúpula dá um chilique de virgem alardeando que não gostou da música tocada no prostíbulo.

A tal nota de repúdio da ala paulista, condenando a exigência de Lula a uma lista tríplice a ser lhe apresentada, é uma reação tardia que só engana neófitos na politiquice. O presidente usa com o PMDB a surrada tática do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. A tal ameaça de lançar um candidato próprio ao Planalto, é um blefe sem cartas capazes de levar o jogo a bom termo.

Mantendo níveis de aclamação popular que lhe dá status de um imperador moderno, Lula acha até graça da insubordinação como showzinho de última hora. Ele sabe como poucos que a humilhação pode ser aplacada com os mimos de sempre. Nenhum partido, sequer o PT que o levou ao poder, tem prioridade na meta do presidente. Tanto que Dilma Rouseff é uma invenção dele enfiada goela abaixo nos históricos do partido.

Imaginar que o “lulacentrismo” vai dar a mínima bola para um vice que não mereça sua extrema unção é quimera. Fantasias dos que colaboraram com o mito endeusado nas telas de cinema. O PMDB, apontado em prosas e versos como o maior partido da América Latina, é um gigante manso e incapaz. Tem remédio. Claro que sim, basta mostrar coragem.

Mas para isso é necessário agir nos limites de um milagre. Primeiro, abandonar as sinecuras do poder e, segundo, deixar – para valer mesmo – de ser apenas um apêndice nas decisões que interessam ao líder supremo. Com base na cronologia do servilismo já demonstrado, não tenho razões para acreditar que o atual PMDB vai se tornar independente.

No máximo, vai acender velas capazes de agradar santos e capetas de todos os matizes. Assim sendo, poderá sentar na confortável poltrona que acomoda a base aliada do governo. Seja ele quem for. É a tradição de mudar os reis e manter a mesma corte. O papel de bobo é o do contribuinte. Cargo merecido e vitalício.



Rosenwal Ferreira é jornalista e publicitário

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