Não há jornalista, principalmente na mídia televisiva, que não lamba os beiços e se agite colericamente diante de erros cometidos por algum policial. Mesmo que as investigações estejam no verniz das comprovações legais, é normal que se apressem julgamentos exigindo linchamento público. Mesmo sendo um tópico grave, que exige providências capazes de cortar o mal pela raiz, o recente episódio envolvendo membros da corporação militar de Goiás não fugiu à regra. Alguns exagerados só faltaram propor a volta da guilhotina ou da forca em praça pública. Menos minha gente. É melhor não acelerar na lama evitando atolar de vez.
Primeiro que as operações tiveram um caráter midiático, bem ao estilo das trombetas da Polícia Federal, e muitos juristas sérios questionam o isolamento dos suspeitos numa prisão federal de segurança máxima, tratados como se já tivessem sido julgados e condenados. Não se corrige um crime, por mais grave que seja atropelando os ritos da legalidade. Mas essa é uma questão para doutos juízes decidirem.
O que me incomoda, como pai de família e cidadão goiano, é o viés capaz de “arriar as calças da Polícia Militar”. Explica-se: o sensacionalismo deu ares de que a corporação do cerrado é composta de uma milícia que extermina inocentes. No interesse de matérias rancorosas, colocou-se na mesma cova – e igual índice estatístico – bandidos perigosos e inocentes que se tornaram vítimas. Esse clima pode inibir o policial de agir e reagir à altura de gente que não tem o menor escrúpulo em matar.
A Polícia Militar de Goiás, na essência de sua corporação e nos objetivos que norteiam as atividades cotidianas, entende que segurança é coisa séria. Não dá para ficar de não me toques não me reles. Ou alguém duvida que os ordinários do Rio de Janeiro, que estão perdendo território naquele estado, vão migrar para rincões em que a polícia tem receio de atirar? O bom senso nesse sentido é para ontem.
No confronto entre o facínora e o agente da lei não pode existir a síndrome, enlatada a priori, de que a força policial está às ruas para exterminar quem não merece. Sem essa. Quem tem um mínimo de conhecimento das quadrilhas, sabe que os marginais se fazem de vítima com ações premeditadas envolvendo a família. É incrível que até esse gesto humanitário, entrevistando e mostrando o lado família dos envolvidos nas acusações, foi desprezado na avalanche das manchetes.
Seria uma boa ideia separar a indignação inicial, o lado emocional que clama vingança, mostrando o lado positivo, as dificuldades e os desafios de uma das mais qualificadas corporações do país. Boa parte da estrutura existente teve sólidas raízes nos oito anos do governo Marconi Perillo. Lembrando que as últimas porteiras entre o crime solidamente organizado e o cidadão de bem, é o escudo humano dos policiais civis e militares. A desmoralização deles é um perigo maior do que imaginam os críticos desvairados.