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quinta-feira, 31 de maio de 2012

O que me envergonha de ser goiano

     Antes que os arautos do mau juízo possam arrotar conclusões apressadas, tenho firmes raízes em solo do cerrado. Não pretendo deixar minha terra natal e vou continuar criando meus filhos sob o luar de Goiás. Mas existem aspectos deprimentes relacionados com nosso Estado que me fazem corar de vergonha. Entristece-me, num misto de desalento e ignomínia, que em poucas décadas destruímos praticamente todos os nossos rios, ribeirões e córregos piscosos. O cidadão que deseja ir a um bom rio com sua vara e anzol, tem que recorrer aos pesque-pague ou percorrer milhares de quilômetros para fisgar algo em outros rincões do País. É um vexame constatar que destruímos, de forma criminosa e sistemática, a riquíssima ecologia do cerrado.

     É humilhante recordar que vendemos o colosso de Cachoeira Dourada, erguida com o suor de nossos pais e avós, na bacia das almas e a verba entrou no ralo das inutilidades. Desonra-nos admitir que mantemos o pior aeroporto do País, que muitas de nossas estradas ainda representam um salseiro de buracos  e prejuízos e que somos incapazes de tocar obras públicas de relevância sem o manto da desconfiança, da coisa mal ajambrada.

    É vexatório que uma capital planejada, que tinha tudo para evitar erros, tenha sido fatiada entre grupelhos inescrupulosos. Hoje, não existe um bairro sequer que possa ser considerado como estritamente familiar. O caos no transito se assemelha a capitais que floresceram na zorra difusa. Que vantagens temos atualmente na origem de uma criação estruturada? Nenhuma. Grupos de vereadores desonestos, alinhados em gestões com visão no voto fácil, permitiram a implantação desta balbúrdia. 

     Poucas décadas atrás, não havia o sentimento de insegurança que paira sobre as famílias como um facão em mãos desnorteadas. Os índices de criminalidade locais são crescentes e assustadores. Roubos, estupros e assassinatos ocorrem à luz do dia em setores nobres como Sul, Bueno, Oeste e Marista. É uma aflição aceitar que pais de família do eixo Rio São Paulo, que vieram para nossas paragens em busca de uma tranquilidade perdida, retornam às suas origens com receio da violência. Chegamos ao ponto de evitar a aquisição de um veículo de preferência para esquivar-se do assalto.    

     É indecoroso, indigno até os ossos, ter que conviver – governo após governo – com uma região batizada de “robauto” e que se presta exatamente a incentivar a prática do apelido. É deprimente  que o noticiário nacional nos enxergue como um Estado bandido. Exatamente nos moldes que tanto criticávamos no submundo do Rio de Janeiro. Assombra-nos que o universo das drogas esteja engolindo quadriláteros das cidades sem que a polícia tenha condições de agir.  

     Eu tenho vergonha, muita vergonha, que parte da população jogue lixo nas ruas, tenha a insensatez de entupir esgotos com imundices, não limpe os lotes baldios que lhes pertence e que cena de motoristas limpando a sujeira dos veículos nas calçadas ainda seja algo comum. Causa-me asco que prédios públicos sejam vitimas de pichadores e que ainda mantemos hábitos brucutus de tacar fogo nas matas.     
Não me conformo com o incremento da poluição visual que desfigurou as cidades. A poluição sonora, com os tarados do mau gosto e suas boates sobre rodas, é um desrespeito absurdo que  ainda encontra defensores. É tão desgastante que já provocou inúmeras mortes. É maligno conformar-se que empresas poluidoras do ambiente sejam multadas, diversas vezes, e continuam operando normalmente.

    Vale destacar o festival de construções inadequadas, sob a égide da fraude, que erguem arranha céus no arrimo de propinas inconfessáveis. E, ainda, que proliferem postos de gasolina entregando produto adulterado.  Mesmo assim, afirmam os especialistas que estamos num patamar superior. As estatísticas comprovam que do lado de cá a grama é mais verde. Mas isso justifica conformar-se e não falar dos podres que precisam ser corrigidos? È mais produtivo esconder verdades que doem e apenas louvar o que existe de melhor na terrinha? Não acredito. Foi no trono do conformismo que perdemos boa parte da qualidade de vida.    

 Rosenwal Ferreira @RosenwalF

sexta-feira, 25 de maio de 2012

O efeito João Campos


     Acuado pelas águas do imbróglio Cachoeira, o governador Marconi Perillo não está tendo gás suficiente para enfrentar a refrega nas eleições municipais. Sem muito esforço, a oposição notou que a operação conta-gotas, com vazamentos premeditados que sangraram o líder do PSDB, seria capaz de drenar as energias do chefe do governo e facilitar a reeleição de Paulo Garcia.


 As pesquisas comprovam que acertaram na mosca. Inicialmente inexpressivo, e durante meses patinando com apenas um dígito nas intenções de votos, Garcia deixou de ser apenas uma sombra de Íris Rezende para se transformar numa estrela com brilho crescente. Na atual conjuntura dos planetas, até o mais pessimista dos oráculos o considera favorito inquestionável. O candidato do governador, o aguerrido Leonardo Vilela, – mesmo com os méritos que possui – não empolga. De forma injusta ou merecida, pairam sobre ele dúvidas que se arrastam na enxurrada de denúncias com cheiro de coisa mal ajambrada.

    Seria o caso de jogar a toalha e entregar a mais preciosa joia do pleito à dobradinha PT-PMDB? Nem tanto. O tabuleiro da política é um jogo de xadrez com amplas possibilidades. Uma peça no lugar acertado, com apoio de valorosos companheiros de retaguarda, pode significar uma reviravolta com xeque-mate inesperado. Na análise de vários especialistas, corroborada pelo receio da oposição, o Deputado João Campos seria o elixir mágico capaz de turbinar a disputa e virar o jogo. Ele tem um sopro especial com sintonia fácil junto ao eleitor. Homem de hábitos simples, ética inabalável e opiniões contundentes, mantém o respeito até dos adversários. O paradoxo de suas origens de atuação pública, pastor evangélico e delegado de polícia, acaba sendo uma força que aglutina importantes correntes de admiração. João Campos consegue o apreço mesmo entre facções que não se bicam.


   Com exceção de correntes que só acham bonito o que é espelho, a maioria dos religiosos de boa linhagem o consideram um cristão autêntico com posições firmes em defesa das famílias goianas. Uma característica que permite boa estratégia de marketing, visto que a população procura portos nos quais possa atracar com segurança. No espectro das Polícias Civil e Militar, com um potencial de votos expressivo, é um parlamentar que inspira confiança. Além de tudo isso, já provou que é bom de voto.

     No caldeirão que ferve os interesses da política, possui um defeito quase insanável. Cidadão de classe média alta, mas sem heranças ou sobrenome famoso, não possui grana, dotes ou gorduras extras para bancar um pleito majoritário. Sua campanha para deputado foi de recursos tão restritos que o comitê de apoio sequer tinha água. Contudo, esse "defeito" nos tempos atuais se transforma em qualidade.

   Com tudo isso, pode anotar, os cérebros da oposição temem João Campos, tanto que já realizaram até uma espécie de antivírus para minar sua candidatura. O interessante é que o PSDB e aliados não perceberam essa avenida de oportunidades. Ou será que sabem de tudo isso fingindo de morto para ressuscitar na hora certa? Só o tempo dirá.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Guerra suja contra a liberdade de imprensa


Recentemente o Centro de Estudo sobre Che Guevara, controlado pela ditadura cubana, suprimiu de uma publicação trechos históricos em que Che executa friamente, sem julgamento ou defesa, dois traidores. A ideia é perpetuar o culto romântico que envolve o guerrilheiro, deixando de mostrar o lado covarde e insano de sua complexa personalidade. Nada de novo no pesqueiro de Fidel Castro e sua corte de tiranos arbitrários. Como afirma com muita propriedade o escritor Jon Lee Anderson, autor de uma biografia honesta de Guevara, Cuba é um país em que um punhado de pessoas decide o que os demais vão saber.

O assustador é que uma turma ligada a esse contexto de opressão continua disposta a esgoelar a liberdade de imprensa em terras brasileiras. Encastelada em postos-chave da política e se agarrando como sanguessugas nos calabouços do poder, sempre que podem tentam colocar a imprensa no banco dos réus. A ideia fixa é desmoralizar jornalistas e veículos de comunicação, como forma de iludir a opinião pública e permitir mecanismos capazes de cercear a liberdade.

Covardes e desleais na essência agem nas sombras utilizando subterfúgios próprios de ratos de esgoto. Eles odeiam jornalistas e veículos independentes, sobretudo aqueles que não conseguem comprar ou intimidar. Para citar um bom exemplo, essa turma do mal soltou fogo pelas ventas disposta a impedir que o escândalo do mensalão fosse esquecido. O projeto sempre foi o de intimidar profissionais, acuando publicações dispostas a exigir justiça, até que os crimes fossem prescritos.

Como não funcionou até o momento, uma campanha mais sórdida ainda se reergueu escondida no imbróglio Carlos Cachoeira. Como se uma lambança pudesse redimir a outra. A moeda de barganha foi no estilo esqueça as minhas diabruras e eu finjo que vou apurar as suas. Sem essa. Não dá para engolir. O que se espera é que as duas garafusas entrem no rol de papirongas investigadas e punidas.

Causa-me asco perceber que alguns veículos de comunicação estejam alimentando o propósito de debilitar a imprensa. Ora fazendo o jogo da lorpa irresponsável, ora tirando proveito pelo prazer de destruir. Os homens de bem precisam estar atentos. Depois do aparelhamento do Estado, com todas as suas visíveis e nefastas consequências, está em curso um arranjo semelhante envolvendo a imprensa. Se não frearmos essa tendência, cedo estaremos enrascados numa farsa à la Cuba, mas no pior dos cenários. O dos ingênuos que se iludem pensando viver numa democracia.

O golpe na liberdade de imprensa, como reza a cartilha de Hugo Chávez, Fidel Castro e a orbe de canastrões que os admira, se aglutina cercando a independência do judiciário. A tática de guerrilha “modernosa” implica em destruir reputações emparedando mulher e filhos. O sonho da caterva, que uiva no mesmo compasso, é tocar o Brasil com um partido único e o judiciário de joelhos. A galera serviria apenas para referendar seus desejos unilaterais.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

O que teme a ala podre da política?


          Em todos os partidos, sem exceção, existe a ala fecunda em podridão explicita. Ao contrário do que acontece em nações civilizadas, essa turma do mal se ergue em majestosa superioridade e faz impor sua vontade. No mar de lama que se afunda a investigação em torno dos tentáculos de Cachoeira, eles se agitam para evitar que a verdade, sem filtros ou artifícios, venha à tona. Em suas mesquinhas visões de senso ético, interessa apenas sufocar os adversários e proteger o banditismo dos companheiros mafiosos. No berço da CPI em curso, já decidiram o que não deve fluir.
          No momento, esse grupelho pretende evitar a convocação dos governadores. Movidos por interesses umbilicais, se unem para evitar o desgaste de Marconi Perillo (PSDB) de Goiás, Agnelo Queiroz (PT) do Distrito Federal e Sergio Cabral (PMDB) Rio de Janeiro. O representante de nosso Estado afirma que deseja ser ouvido e aprova publicamente sua intimação. Mas como o destino dos três envolvidos se entrelaça, se a manobra vingar Perillo pode ficar de fora amargando o desgaste já encarquilhado.
         A parte mais sórdida é a recusa, algo que faz trincar os dentes de um renque do PT e PMDB, em suspender o sigilo dos documentos recebidos das operações Vegas e Monte Carlo, realizadas pela Polícia Federal e que são a matéria prima das investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito. Uma recusa incrível considerando que essa farta documentação é algo que pertence ao contribuinte.
     Se fossemos uma nação séria, toda essa papelada estaria disponível na internet. Afinal de contas, o processo foi realizado por agentes do povo brasileiro, pagos com o dinheiro do contribuinte, para desbaratar uma rede criminosa infiltrada em órgãos do governo. Sigilo é inadmissível. Presta-se a defender uma corriola que teme ser desmascarada. É irritante que o Partido dos Trabalhadores, que outrora urrou em nome da transparência, seja o mais obstinado em manter as nuvens que cobrem a limpidez. Essa vergonhosa atitude faz corar os homens de bem que se firmam na legenda.
      A oposição, que teoricamente está na maior fritura, promete recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando ao Ministro Ricardo Levandowski, relator do processo, que suspenda a proibição permitindo que legisladores do todos os matizes possam escarafunchar os documentos. O que tem esses arautos da interdição? Que seus cupinchas, ou eles próprios sejam desmascarados. Só poder ser.  
       Depois de tantos vazamentos enviesados, com evidente foco nos adversários, fica até risível que se fale em respeito e sigilo por conta de segredo de justiça. Balela. Nós, que pagamos a mais pesada, injusta e mal aplicada carga de impostos do planeta, exigimos saber de todos os detalhes. É sórdido imaginar que a tal CPI seja urdida para revelar apenas um naco da verdade. Deixando, mais uma vez, boa parte do lodo embaixo do tapete.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Em Istambul não tem cachoeira


         

          Ao sair do Brasil sob as asas da competente Turkish Airlines, numa pontualidade britânica, atendimento cordial que me fez recordar os bons tempos da Varig, ainda amargava as péssimas notícias do esquema Cachoeira. Uma noite de sono sob o embalo de vinhos Turcos, com uma qualidade surpreendente, salmão defumado preparado nas alturas por um chefe que acompanha a qualidade da alimentação, logo me fez esquecer que o Brasil, como sempre, vive as turras com mais uma corrupção que drena as energias do País. O aeroporto da antiga capital bizantina é um oásis. Tudo muito limpo e bem cuidado nos detalhes. Impressiona a rapidez com que o staff consegue agilizar a alfândega e carimbo no passaporte a milhares de turistas que chegam aos borbotões.


      Não é por mero acaso que a cidade se ajustou como portal de magnificência a vários impérios. Tudo é superlativo e impressionante. Os castelos, mesquitas, ruas com ares de uma viagem medieval, o artesanato rico, a paisagem deslumbrante, ficam mais agradáveis com a hospitalidade turca que deixa o estrangeiro de queixo caído. Eles procuram ser gentis em todos os aspectos. Se tornaram profissionais do turismo como poucos nações do mundo. Mesmo fora do circuito tradicional dos bons hotéis, as pessoas arranham o inglês e muitos falam português corretamente.

         A paciência deles conosco é algo de sensibilizar, muitos possuem avós, tios e primos -- muitos primos -- que imigraram principalmente para São Paulo. É legitima sua admiração pelas coisas do Brasil. Principalmente pelas nossas mulheres que eles paqueram mesmo com o marido por perto. Não chega a ser intolerável porque saem de fininho com aproximação do esposo e os galanteios se estabelecem em um nível que eleva o ego das damas. No contexto dá para tirar de letra.

          Se aventurar pelo grand bazar é como viajar num tapete mágico depois de alisar a lâmpada de Aladim. Ali, nas milhares de lojas, nos becos em que se perde sem nenhum perigo, nas amplas possibilidades de negociação é possível encontrar artigos inimagináveis.  Apaixonada por chás, minha doce Ketina se deslumbrou com especiarias que jamais pensou existir. São aromas e combinações milenares, colhidas e cultivadas numa cultura ainda medieval. Resultado: boa parte da mala se comprometeu com variedades que vão render boas noites de degustação em terras do cerrado.

       Aos que desejam adquirir um tapete autentico, desses cujos fios se tornam mais qualificados com o uso e o desgaste do tempo, me atrevo a indicar a Nakkas, que fica na Nakilbent Sokak número 33, no quadrilátero Sultanahmed, cujo vendedor Hamid Koçak, fala português fluente e castiço, como se fosse um intelectual. O homem é de um refinamento impar. Levou horas nos explicando as diferenças de fio, método da confecção de uma obra prima, nos mostrou os subterrâneos históricos que ficam sob a imensa loja, desfilou cuidadosamente modelos e estamparias admiráveis, agilizou cinco funcionários, serviu um saboroso café turco, água com gás de boa procedência e, ao saber que não iríamos levar coisa alguma, nos levou à sessão de pratos decorados e jóias, com o mesmo sorriso e amabilidade. Depois disso, nos acompanhou até a porta agradecendo a visita, certo de que jamais retornaríamos ao local. Isso sim, é que se chama profissionalismo.

          Alias essa é a palavra mais adequada para definir o turismo na Turquia, tudo se ajeita no profissionalismo. O hotel em que ficamos, o Crowne Plaza Istambul Old City, é como se fosse um museu. Basta ficar no estabelecimento para constatar a opulência que se registrou no império bizantino.

      E aos que procuram modernidade, a nação dá um show. Tanto no continente Asiático quanto no Europeu, existem templos de consumo de fazer inveja ao Tio Sam, estruturas que emplacam centenas de lojas em ousadas arquiteturas, oferecendo grifes de todos os recantos do Globo. Tudo mais em conta do nas agruras dos impostos brasileiros. No arremate, tudo o que disserem sobre a Turquia pode acreditar. Vale a pena visitar e curtir o País.