Por uma dessas razões que a ignorância e a falta de civilização explicam,
prolifera em Goiás uma galera disposta a estuprar os tímpanos da vizinhança.
Frustrados até os ossos, eles enjaulam alto falantes em veículos
automotores e depois abrem o cadeado liberando o urro dos infernos. As famílias
se tornam reféns, indefesas desses verdadeiros tarados do som alto. Na
constante neurose que permeia seus obtusos cotidianos, eles não desejam curtir
música em volume superior ao bom senso. Fosse apenas isso estava resolvido.
Bastava enfiar um fone nos ouvidos e se deleitar em orgasmo particular. Os
degenerados obrigam o cidadão a ouvir o que bem entendem.
A cada
dia se torna mais difícil combater essa verdadeira gangue. Os órgãos de
fiscalização operam no limite da incompetência declarada. A legislação é frouxa
com o que nos atazana o cotidiano e, o imbróglio é tão odioso que já causou
mortes e infortúnios de todos os matizes. O pior é que os ordinários do
fenômeno acústico exacerbado se arvoram de um gosto musical que oscila do
sofrível ao intragável. A maioria se dedica a escutar repertório de corno
com direito a urros sertanejos dignos de uma cólica renal.
Deus nos acuda quando uma
dessas cavalgaduras derrapam as rodas do turbinado na calçada de um
bar. No raio de um quilômetro somos forçados a dar atenção a bramidos que falam
de “bondes do Tigrão”, “cachorra da minha vida”, “égua pocotó” e misérias
que rodam o mundo como o tal “ai se eu te pego?” É um assombro que
a legislação não tenha criado uma figura jurídica capaz de confiscar essas
boates ambulantes.
Passou da hora de
criar regras que possam defender as famílias de quem tem potência pessoal de
menos e decibéis demais na caçamba do automóvel. Chega de tolerar distúrbios de
personalidade que culminam em desrespeito ao sono e tranquilidade alheia. Que
legisladores de boa lavra ofereçam opções para resguardar o direito básico
ao descanso, sem que alguém force nossas janelas com vibrações indesejáveis. O
duro é que os políticos também se deliciam em vociferar gritaria usurpando
nosso sossego. E durma-se com um barulho desses. Literalmente.
Rosenwal Ferreira: Jornalista e
Publicitário
Twitter: @rosenwalF
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