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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Cuba que eu vivi, parte três

Ao perceber que aceitamos o convite para enxergar as frestas do “ponto zero” -- quadrilátero em que vive nababescamente Fidel Castro e a dinastia dos czares do comunismo versão ilha – o culto motorista percebeu que era para valer a nossa proposta de registrar as nuances da verdadeira Havana. Fotos são proibidas mesmo!! Enfatizou ele. Claro que estávamos dispostos a obedecer. No trajeto ele nos contou os horrores das prisões, local em que ainda mofam os dissidentes de um regime falido e ditatorial.

Nos arredores do famoso e inescrutável local, residências luxuosas realizam uma valsa de contrastes com as decadentes condições em que sobrevivem o grosso da população. São mansões que abrigam as embaixadas, casas de atores famosos, escritores protegidos pelo sistema, alguns poucos atletas consagrados, dirigentes da alta roda e cantores de sucesso. As avenidas são bem cuidadas, os veículos são novos e percebe-se nitidamente que ninguém por ali esconde que a região abriga uma casta.

Nas proximidades do “ponto zero” proliferam placas, como se fossem sinais de trânsito normal, deixando objetivamente claro as restrições de fotografia e filmagens. Por se tratar de uma área muito extensa, sequer dá para ter uma ideia qualquer de como vivem os ditadores e seus familiares. Os bosques são preservados a esmero e sobram militares com olhar atento. Na segunda vez em que demos a volta no extenso quarteirão, e mesmo que tivéssemos um proibidíssimo binóculo não enxergaríamos nenhum detalhe, um veículo militar passou a nos seguir. Prudentemente, e conhecendo os riscos, o guia acelerou para um local adequado aos turistas.

No trajeto explicou que os segredos que envolvem o cotidiano de Fidel e Raul Castro são mais protegidos do que as alcovas da Casa Branca. A comunidade mais atenta sabe que fornecedores de alto luxo, capazes de importar vinhos de safra nobre, perfumes franceses, cosméticos, especiarias da culinária internacional e outros mimos, garantem um fornecimento privilegiado, com a desculpa de atender os chefes estrangeiros que se deleitam nas visitas oficiais.

Os irmãos ditadores não se furtam em receber um tratamento facial anti-rugas, famoso por amenizar as linhas de expressão do rosto e uma massagem profunda, à base de rum, que combina uma série de manipulações específicas para o desbloqueio da tensão muscular. Como ele sabe disso? Em diferentes ocasiões, especialistas tiveram que cancelar pacientes nos SPAs, alguns já na mesa de atendimento, para atender os dirigentes.

Enquanto isso, nos confessou mais tarde uma médica do elegante YHI de Varadero, nem todos os diabéticos cubanos se dão ao luxo de receber o medicamento necessário. Faltam remédios básicos em todas as áreas cruciais. É triste aceitar a realidade, confessou com resignação, que a mito da medicina qualificada é apenas isso. Um mito capaz de atender os estrangeiros, para efeito de publicidade entre os poucos que ainda acreditam na falácia do comunismo.

Voltando ao taxista, ele nos levou em seguida a um maravilhoso conjunto de residências, fruto do artista do mosaico José Fuster, que dedicou 18 anos moldando sua casa com azulejos, num festival de cores e arranjos incríveis. Uma prova da criatividade, da alegria e do viés artístico de um povo que não se deixou abater pela tirania. Logo depois, nos conduziu a insossa praça, obrigatória no circuito turístico tradicional, que abriga um gigantesco neon com a silhueta de Che Guevara e Fidel Castro, local em que o ditador realizou discursos de até seis horas de duração. No dia seguinte embarcamos cedo para Paradisus Varedoro. Fantástico, depois eu conto...

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