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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Médico estuprador em Goiânia

O recente caso envolvendo o médico paulista Abdelmassih, preso e acusado de abuso sexual em pelo menos 60 pacientes, felizmente é um assombro no registro das exceções. Como regra, esses profissionais são éticos, zelosos e dignos de confiança dos pacientes. O chocante relato das mulheres violentadas, que nada ganham relatando o amargo sofrimento, deixa poucas dúvidas sobre a dualidade entre o cientista e o monstro.

Nos bastidores do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, muitos conselheiros lamentam que não tenha sido possível atuar defensivamente quando o burburinho já fazia eco no mais rudimentar dos estetoscópios. O problema é que a burocracia e ausência de pulso quando se trata de punir um colega são entraves que deixam o mal criar sólidas raízes. Poucas são as mulheres capazes de enfrentar o médico estuprador olho no olho. O agravante é que esses anormais são inteligentes, ardilosos e mantêm legiões de defensores. Em Goiânia, apenas para registrar mais uma vez, existe um desses maníacos em plena atividade.

Uma de suas vítimas, entre dezenas que ainda não tiveram coragem para enfrentar o desafio, levou a ação até o fim. Mostrou-se crucial o apoio da valorosa Luzia de Oliveira, atual integrante do Fórum Goiano de Mulheres, com o firme suporte da saudosa Consuelo Nasser e de outras mulheres ligadas ao Cevam.

Infelizmente, vítima dos bons advogados que o defenderam e com o auxílio do irmão que ocupa um cargo importante nas lides do governo, o desequilibrado salvou-se, pagando uma indenização trivial. Após livrar-se da Justiça, ameaçou a vítima e moveu ações intimidatórias contra a imprensa. A estratégia funcionou. Sabendo do tamanho da encrenca e do poder dos envolvidos, outras testemunhas, incluindo duas enfermeiras, recuaram em suas iniciativas de denúncia.

O Conselho Regional de Medicina recebeu pronta notificação. Tentou agir, mas esbarrou no medo das testemunhas. O tal “doutor”, que mantém no curriculum até uma expulsão, aos berros, de um centro cirúrgico administrado pelo dr. Zerbini, fincou consultório nos arredores da Capital e está mantendo a tara em banho-maria.

Os leitores, com toda razão, vão indagar o porquê de um artigo-denúncia que não leva o nome do autor. Fácil explicar. Assim como aconteceu com Caron, Abdelmassih e outros, ele ainda vai praticar horrendas barbaridades antes que caia na rede da Justiça. Mas todas as vezes que lê um artigo envolvendo sua anomalia, ele se arregaça de ódio com gana de engolir o anzol. As mulheres prejudicadas, graças a um diligente advogado que mantém registros de suas loucuras sexuais, se fortalecem criando condições para denunciar.

Sendo assim, e principalmente considerando que a sociedade tem suas formas indiretas de comunicação, vale a pena cutucar o animal de jaleco branco. As excelências médicas que dignificam o exercício, uma esmagadora maioria que tanto admiro, sabem que o joio está separado do trigo. Cedo ou tarde ele será desmascarado. Faz sentido esperar outras vítimas? Faz sim. É o preço que se paga pela democracia e pelo Estado de direito.


Rosenwal Ferreira é jornalista e publicitário

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