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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Onde os sinos dobram por José Mendonça Teles

Muitas páginas na internet derramam merecidos elogios ao escritor goiano José Mendonça Teles. Ele é respeitado como historiador, poeta, contista, cronista, ensaísta, dicionarista e jornalista. Mas acima de todas as funções que desempenha com inesgotável magia, sempre foi a de ser especialista em gente. O nosso José do cerrado é o espírito máximo da cortesia, candura e generosidade de quem viveu intensamente haurindo o certo nas terras do pau torto.

Em recente visita ao seu donairoso museu encravado como joia rara no centro da Capital deleitou-me sua prosa divertida e os encantos de um velho que brota juventude intelectual. Mais de uma hora de troca injusta - para ser correto eu deveria apenas escutá-lo de joelhos – eu percebi o quanto é importante a simbiose entre cultura e humildade.

Além de visitar um mestre das letras, desses raros que moldam frases como escultor a fundir vasos únicos a partir do barro, tinha como missão autorizar a adaptação da poesia “Ser Goiano”, para uma peça televisiva. O sorriso de quem já escreveu agruras transformando-as em lição de vida foi algo com desconcertante singeleza.

“Meu caro jornalista Rosenwal Ferreira, essa poesia não me pertence mais. Ela é sua, ela é nossa. É uma cidadã do mundo. Navega pela internet como se fosse um veleiro de quem não tem o mar, pois não precisa dele. Utilize e faça o que achar melhor. Minha recompensa é divulgar nossos encantos.”

Por essas e outras é que José Mendonça Teles paira acima da média comum. É um homem admirável que plantou mais do que colheu. Na chácara que era de sua propriedade, um oásis beijando a cidade que o estrangula aos poucos, freiras carmelitas adornaram um mosteiro que acolhe peregrinos de todos os matizes.

O valor da diária faz jus ao poeta, transformando o local num democrático centro de estudos espirituais. As hortas que abastecem o quadrilátero oferecem verduras sem agrotóxicos e a cozinha é vegetariana por opção das religiosas. Bem próximo à capela se ergue majestoso campanário em que badalam sinos feitos à mão por artesões italianos.

Deitado na relva próxima à capela, em meditação profunda após dois dias em voto de silêncio, vislumbrei as nuvens, o sol do cerrado minguando seu gigantismo, um tucano pousou na copa de uma árvore de casca grossa, casais de bem-te-vis ensaiaram um concerto, o vento soprou em cúmplice equilíbrio e, neste exato momento de intenso magnetismo com a natureza, os sinos badalaram. Eu estava num cenário à lá José Mendonça Teles.


Rosenwal Ferreira é Jornalista e Publicitário.
Email: rosenwal@terra.com.br

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