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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Cuba que eu vivi. Parte um.

No auge da cachoeira de investimentos que jorravam da extinta União Soviética, eu visitei Cuba e não encontrei nenhuma maravilha digna de registro. Ainda no cueiro da atividade jornalística, tive que engolir calado observações de escritores como Fernando de Morais (autor do livro a “Ilha”), que enxergou prodígios admiráveis. Cheguei até a pensar que tinha alguma coisa errada comigo. Talvez uma demência causada por leitura excessiva da Reader´s Digest ou alguma lavagem cerebral a distância realizada pela CIA. Como as patrulhas ideológicas realizavam fogueiras de inquisição nas redações, guardei as péssimas impressões como acervo pessoal.

Recentemente decidi que já era tempo de retornar aos domínios de Fidel Castro e conferir os avanços do comunismo. Confesso que fui contagiado pelo jovem comunista goiano Bruno Pena que, ao ser entrevistado no meu programa de TV, afirmou convicto que eu estava enganado e que Cuba era, hoje, referência em qualidade de vida. Se pudesse estaria residindo lá, arrematou com um sorriso largo.

Aceitei o desafio. Juntei as economias, ajeitei um pacto civilizado e arrastei minha esposa Kétina em mais uma de minhas aventuras. Como não sou besta, e prezo meu casamento, fiz uma opção que inclui o circuito de hotéis cinco estrelas em Havana e resorts de luxo nas límpidas e baladas praias de Varedo. Tudo muito competente e organizado. As valises da CubaTour, entregues no Brasil, são luxuosas e requintadas. Senti firmeza.

Ao chegar ao aeroporto de Havana, que susto, tive saudades do pardieiro que se vivencia em Goiânia. As cabines da imigração ainda preservam o estilo porta fechada em que os casais são proibidos de entrar juntos. Ali se amarga alguns minutos de constrangimento, quando não se enxerga o que aconteceu com a esposa que passou pelo crivo dos carimbos e saiu por uma porta que se tranca. Foi uma neura passageira. Deu tudo certo.

Na hora de pegar as malas é que foi o bicho. As bagagens, no duro, iam caiando compassadamente, uma por uma, a cada cinco ou dez minutos. Sabe-se lá o motivo. O fato é que demoramos horas para receber os quatro volumes. Um casal de ingleses, perto de ter um treco, ficava olhando dezenas de funcionários parados e ninguém sabia explicar coisa alguma. Muito simpáticos, sorriam com a gastura dos passageiros. Era Cuba. Dizer o que?

Após esse dissabor corriqueiro, o nosso agente esperava atencioso, com um veículo confortável e uma conversa generosa. As avenidas largas, sem lixo e trânsito fluente, sopraram um ar de férias com muito acerto. Afinal de contas, confirmou ele, o nosso hotel era uma das pérolas de Cuba. O majestoso Meliá, com seus três restaurantes requintados, e ao lado do Havana club, a mais badalada e tradicional casa noturna da cidade. Foi o começo de uma jornada capaz de misturar farsa, pobreza, luxo e glamour num só caldeirão. Nas próximas semanas conto o resto.

2 comentários:

  1. Acabo de ler o livro "A Ilha", citado acima, posteriormente de ler o recem lancado Guia politicamente incorreto da America Latina. Sao duas visoes extremamente divergentes em ralacao a Cuba. Tambem tenho muita vontade de conhecer este pais, pois cada pessoa relata sua posicao de acordo com opinioes pessoais. Como a Cuba descrita por Fernando Morais e tao maravilhosa e a descrita por voce e narloch e pavorosa?

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  2. Somente agora vi a sua referência a mim neste texto, Rosenwal. Confesso que me senti um tanto quanto lisonjeado. Respeito muito sua opinião, mas continuo considerando Cuba um exemplo de resistência. Países considerados desenvolvidos como EUA e Inglaterra possuem contradições bem mais acentuadas.

    A me referir a países que conseguiram melhorar a vida de seu povo poderia citar países capitalistas também como a Suécia por exemplo, mas não poderia fazer comparações entre ela e Cuba. Pois Cuba possui um PIB muito menor e sofre hostilidades dos EUA e um criminoso embargo econômico que a Suécia não sofre.

    Mas fico feliz de você pelo ter ido à Cuba para constatar e formar suas opiniões, muitos outros cruxificam a ilha apenas pelo o que ouviram dizer. Eu mesmo pretendo ir à Cuba ainda esse ano.

    Espero ver em seus relatos sobre a ilha, a respeito da Base Militar de Guantanamo, mantida pelos EUA, onde prisioneiros políticos são mantidos longe de seus familiares e sem direito ao acompanhamento de um advogado. Sobre o bloqueio econômico, em defesa dos "direitos humanos e da democracia" enquanto que o mesmo não é feito com países como Israel, por exemplo.

    Mas fico feliz de ter causado uma boa impressão com relação à ilha comunista, ainda que momentânea e me coloco sempre à disposição do bom debate.

    Cordialmente,

    Bruno Pena

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