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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Delúbio Soares é a caixa preta do cerrado


     Receio de retaliação, falta de entusiasmo por jornalismo investigativo e uma improdutiva política de boa vizinhança, fazem com que a mídia do cerrado tenha pouco interesse numa das figuras mais emblemáticas envolvidas no mensalão. Com barbas que parecem eternamente de molho e um olhar de quem sobrevive à base de calmantes, Delúbio Soares frequenta o noticiário local como estratégia de sua escolha. De propósito, dá palpite em tudo excluindo suas peripécias no maior escândalo do governo Lula.

      Fiel aos que controlam o poder no Partido dos Trabalhadores, é um passarinho mudo que jamais soltou um único pio capaz de comprometer a cúpula do PT. É uma inabalável caixa preta. Mesmo sendo réu por corrupção ativa e formação de quadrilha, e ao que tudo indica prestes a ser condenado, jamais cedeu ao impulso de falar tudo o que sabe.

     Se abrisse a matraca seria um Deus nos acuda. Segundo revelações imputadas a Valério, ele teria anotado em uma caderneta todas as arrecadações “por fora” dadas ao esquema e ainda desconhecidas no julgamento. Uma soma fantástica que chegaria a R$ 350 milhões de reais.

      Aos íntimos, a mulher de Delúbio, membro do diretório nacional do PT, afirma que o marido é uma espécie de macho para mais de metro e meio e sobre qualquer hipótese – mesmo amargando cadeia – acrescentará uma vírgula além do que já foi dito.
Na ótica do lulopetismo, ele é o “cerne da honestidade”. Não deixa de fazer sentido, visto que leva a sério uma espécie de omertà  capaz de proteger Luis Inácio Lula da Silva. Com um sorriso a la Mona Lisa, é um goiano a ser decifrado. É difícil deduzir quais são as vantagens pessoais que ele tira fazendo um papel que ora lhe dá ares de mártir ora indica cinismo explícito.

     O homem não parece ter problemas de caixa, mas está longe de levar uma vida esnobe. Circula com desenvoltura no circuito Goiânia - São Paulo e mantém escritório num dos quadriláteros mais caros da capital paulista. Denominada como Geral Imóveis, sua empresa é virtual em quase todos os sentidos. Segundo revelado pela Folha de São Paulo, não existe um único imóvel anunciado pela firma.

     Nos bastidores, principalmente no circuito que envolve atividades das estatais, seu nome ainda abre portas, janelas e frestas prestimosas. Discreto e eficiente ainda exerce uma boa dose de influencia nos quadros da administração Pública Federal. Não mantém amigos íntimos dispostos a revelar detalhes de sua vida a imprensa.

     Ao contrário de seu parceiro José Dirceu, que enriqueceu á luz dos holofotes e no epicentro do escândalo, Delúbio não se esbalda no rega-bofe dos famosos. Se tiver mágoas, sonhos inacabados, ódio, alegrias incontidas, ilusões ou rancores, somente ao abrir a caixa preta alguém poderá descobrir. Por enquanto, não existe perito capaz de tal proeza.  


Rosenwal Ferreira: Jornalista e Publicitário
Twitter: @rosenwalF
facebook/jornalistarosenwal

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