Orador de verbo fácil e língua ferina,
Martiniano Cavalcanti nunca perdoou qualquer deslize dos adversários políticos,
principalmente dos que não rezam na cartilha da esquerda radical. Suas frases
de efeito, carregadas de ódio indisfarçável, desopilam críticas ácidas ao
capitalismo, à burguesia e ao lucro em detrimento da classe trabalhadora.
Ele vociferou anos a fio contra a falta de ética, condenando
acordos espúrios e jogadas em que os fins justificam os meios. Batia no
peito dando ares de quem pairava acima da mediocridade geral. Até quem nunca
aprovou seu radicalismo, entre os quais eu me incluo, admirava seu
caráter.
Assim como o ex-Senador Demóstenes Torres,
uma espécie de reverso da medalha de Martiniano, o representante do PSOL
despenca das alturas de um pedestal. Cavalcanti, quem diria, foi sugado
pelo esgoto de Carlinhos Cachoeira. Seu nome aparece envolvido num cipoal de
dúvidas que se enroscam num empréstimo de duzentos mil reais.
Candidamente, Martiniano alega que recorreu ao bicheiro para salvar
interesses pessoais e que viu nele apenas um agiota disponível.
Teoria difícil de engolir e todos os cenários
comprometem o bom juízo do exigente Martiniano. Convenhamos, as empresas
sérias, bem estruturadas e com refinado senso ético, não recorrem a agiotas de
plantão para resolver seus problemas de caixa. Elas se dignam a mecanismos
capazes de oferecer auxílio nos padrões orientados pela legislação. Ao
recorrer ao submundo dos negócios, Martiniano negou princípios que apregoava
aos quatros ventos.
Não duvido que seja capaz de culpar a saga
capitalista, o FMI, a CIA. Imputando seus erros empresariais a forças ocultas
controladas pelos Estados Unidos. É uma retórica que lhe cai como uma luva.
Infelizmente, os fatos demonstram, com uma clareza incontestável, que havia
algo de podre no reino do engenheiro Martiniano Cavalcanti. Seus negócios
entraram em parafuso e ele foi justamente cair no colo do mais badalado chefão
do cerrado.
Dizer que ele foi ingênuo seria uma ofensa
imperdoável. Martiniano sempre foi bem informado e sabe como poucos das
engrenagens que movem os corredores do poder. Tinha noção, e até já havia
alertado sobre isso, que o esquema de Cachoeira se erguia nas visíveis
influências do cerrado. Mesmo assim, Martiniano Cavalcanti foi mais um a beber
na fonte que jorra recursos dos caça-níqueis. Provando, na hora do aperto
econômico, que para certos indivíduos os fins justificam os meios. Sejam eles
de partidos de centro, do meio, da beirada ou da esquerda do espectro político.
Uma pena. Cheguei a alimentar respeito pelo implacável debatedor
Martiniano.
Rosenwal Ferreira: Jornalista e Publicitário
Twitter: @rosenwalF
facebook/jornalistarosenwal
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