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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Câmara de vereadores acerta na lei antifumo

Em uma de suas sentenças fulminantes, Shakespeare afirmou que o “fumo é o mais nauseabundo composto de infames odores que já ofendeu as narinas humanas”. A exemplo do que acontece em diversas regiões do planeta, incluindo entre elas a França, torrão-mor do tabagismo, os vereadores de Goiânia aprovaram uma necessária lei que proíbe o fumo em ambientes fechados na Capital.

Merecem apoio e elogios tanto o vereador Bruno Peixoto, autor da matéria, assim como Paulo Borges e Agenor Mariano, que enriqueceram a proposta prevendo punições aos comerciantes e clientes que não acatarem a legislação. Tendo sido aprovada por unanimidade, os aplausos devem ser estendidos a todos os legisladores que permitiram sacramentar a iniciativa.

É uma regra social que protege a maior parte dos cidadãos que não fumam e indiretamente auxilia o viciado que acaba tragando menos nicotina vítima das restrições. Mesmo sendo uma legislação honesta, que mantém bases científicas irretocáveis, pisa no calo de interesses contrariados. Os que temem inovações alardeiam teses falsas procurando defender o indefensável.

Causa-nos surpresa que Nilton Pereira, diligente representante da Abrasel e cidadão pelo qual nutro sincera admiração, esteja entre os que se apressaram a propagar um discurso que nivela o assunto por baixo.

Sem nenhuma pesquisa, sem qualquer sustentação qualificada, ele jura que haverá demissões no setor e que a legislação afetará o consumo. Uma das teorias, jamais pesquisada ou comprovada na Capital, é que clientes fumantes tendem a gastar entre 20% e 30% a mais do que os não-fumantes. Não é verdade. É um chute irresponsável.

Vários estabelecimentos aumentaram expressivamente seu faturamento – cito o Bolshoy Pub como exemplo clássico – ao banir o cigarro entre seus frequentadores. As estatísticas nas cidades que enfrentaram o desafio demonstram que banir o cigarro não fez crescer as exonerações. Essa ideia é uma farsa comum entre os que procuram barrar os progressos na convivência social, justamente porque temem que mudanças conceituais possam causar prejuízos.

Nilton Pereira não está pensando na saúde dos garçons e das pessoas humildes sacrificadas pelos fumantes. Mesmo que bem-intencionado, defende apenas o lucro em detrimento da saúde. Erra feio ao alardear que a lei “é predatória e preconceituosa”. Destrutivos são aqueles que pretendem forçar quem os rodeia a inalar substâncias tóxicas.

Considerando que preconceito é “uma opinião formada antecipadamente, sem maior ponderação, ou conhecimento dos fatos”, a tese é de uma má-fé que não condiz com seu curriculum de seriedade. Existe uma enxurrada de provas científicas, estudos minuciosos, pesquisas de laboratório e outras comprovações, mostrando que o fumante passivo é lesado se não existe uma proteção contra quem sopra fumaça em suas ventas.

Falar em segregação é covardia. É utilizar-se de um refrão que não cola mais. A lei é clara. Ninguém está colocando ser humano algum em condição inferior. Apenas deixando claro que ao dar vasão a um vício que causa câncer, impotência, enfisema pulmonar e outras mazelas, o cidadão não pode comprometer terceiros. Continua tendo esse direito em locais não prejudiciais a outrem.

Lamentável que Nilton, assim como o presidente da Acieg, Pedro Bittar, e outros que pensam como eles justifiquem suas ações tendo como base apenas vantagens econômicas e, assim mesmo, com teorias no “achômetro”.

A ideia é fazer com que Iris Rezende embarque numa canoa furada e realize um veto, deixando de sancionar a lei. Seria uma lástima. Não cabe ao prefeito se expor recusando propostas que possuam respaldo entre a maioria do eleitorado. Seria uma desmoralização infrutífera.

Em todo caso, ambos, tanto Nilton como Bittar, estão sendo pressionados pelos que enxergam fantasmas onde eles não existem. São homens de bem que cedo ou tarde vão render-se aos benefícios da progressista legislação a ser colocada em prática.


Rosenwal Ferreira é jornalista e publicitário

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