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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Adrenalina nos ares do Brasil

Conhecido por vários nomes, tais como campo de aviação auxiliar, galinheiro enjeitado, armadilha a céu aberto e outros não publicáveis, o Aeroporto Internacional Santa Genoveva é como se fosse um portal para o inferno. No último domingo, os veículos se enfileiraram no arremedo de desembarque num prenúncio da sauna que ardia nas vísceras do entreposto improvisado. Na única antessala existente, os passageiros da agonia se amontoavam no estilo ônibus urbano lotado. A maioria de pé dando graças a Deus pelos aviões que partiam no horário combinado.

Mas como estamos no Brasil, nação do atraso estrutural crônico, levantar vôo pode se transformar num pesadelo pior do que amargar espera na ratoeira do cerrado. No percurso realizado pela empresa aérea Gol para São Paulo, horário das 20h20, após uma hora da decolagem, o comandante avisou sem rodeios: “A torre de Brasília informou que existe excesso de aeronaves para aterrissar no Aeroporto de Guarulhos – muitas até já se dirigiram a outros locais – não sabemos como o problema será resolvido.” Dá para acreditar?

Para meu espanto, a maioria dos viajantes não deu a menor pelota. A turma do Timão, que ocupava boa parte das cadeiras - sabe se lá por que - passou a cantar Salve o Corinthians. Somente a besta desse jornalista é que ficou imaginando que iria encontrar São Pedro antes de Fidel Castro, numa morte pra lá de humilhante.

Após mais 50 minutos de agonia, o sádico do piloto informou que “havia uma autorização para pousar, mas tinha sido cancelada vítima de três aviões que estavam prestes a ficar sem combustível.” Eu pensei na hora: e daí seu puto? Tá me dizendo que corro o risco de não viver para aplaudir o Vila Nova dando uma surra no Goiás? Logo agora que o periquito entrou na jaula da série B?

No final, sacolejando como a saudosa jardineira que fazia o percurso de Rio Verde à fazenda do meu pai na década de 60, chegamos são e salvos a maior cidade do País, símbolo de progresso. Bobagem, em se tratando de caos aéreo, a democracia brasileira é para valer. Em Guarulhos homens de negócios e turistas amargam a mesma sina dos goianos. Domingo a noite, mesmo com os saguões lotados, maioria dos bares e restaurantes estava fechado e os que ainda atendiam sequer tinham gelo para a Coca-Cola. Apenas o McDonald’s se oferecia firme e qualificado na proposta de engordar quem podia se dar o luxo. Em todo caso, estou criticando de barriga cheia. Devia relaxar e gozar, agradecendo a adrenalina que o governo oferece. Muito obrigado.


Rosenwal Ferreira é Jornalista e Publicitário

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