Seguidores

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Caça níqueis: regularizar é rasgar o véu da hipocrisia

O caldo que sustenta a presença das engenhocas batizadas como “caça níqueis” em diversos quadriláteros do estado de Goiás é um emaranhado de hipocrisias. Até as renas de papai Noel sabem que a estrutura se mantém firme por interesse de intocáveis de várias castas. Quando o excesso de maquinetas dá ares de cassino autorizado, movem-se algumas peças na parte da manhã com certeza de reposição na madrugada. Foi sempre assim.

Como os envolvidos na rentável empreitada repartem o bolo com afável generosidade, fica cada vez mais distante a romântica idéia de eliminar a jogatina. Principalmente quando se constata que a partilha chega aos andares de cima. Escrever mais do que isto é bulir em caixa de marimbondos armados com fuzis K 47.

Frente a essa realidade, e principalmente considerando que cretinos de todos os credos vão jogar até escondido nas privadas, o ideal é regularizar a atividade. Notem que usei o termo “regularizar” de propósito. É preciso colocar em ordem, corrigir, tornar razoável. Como? Não importa. Façam uma legislação, um termo de ajuste, sei lá. Mas é necessário parar de fingir.

Urge que se pague tributos. Por que não? Não importa os que, como eu, são contra a natureza do jogo, ele vai continuar existindo. É a realidade. Se emplacarem normas, com fiscalização do Inmetro ou do raio que o parta, é possível que a sociedade tire algum proveito. Do jeitão que está, numa certeza de continuidade tão real quando o sol nascer todos os dias, apenas uns poucos tiram proveito. Ou seja: a clandestinidade, a criminalização, é mais danosa do que benéfica.

É necessário discutir a questão compreendendo a natureza humana. Não se trata de um fenômeno brasileiro. Em todo o planeta existem milhões de pessoas fissuradas em jogos de azar. Os que possuem cacife econômico viajam a outras nações à procura dos orgasmos de perdedor. E daí? Uma parcela deseja jogar dinheiro no ralo da esquina. É uma curtição que ninguém segura.

Os mais apressados vão dizer que estou a favor de viciar adolescentes e transformar o Estado num buraco de jogatina irresponsável. Note que esse é o juízo real, o espectro que já frequenta nossas salas. A proposta é direcionar o processo transformando-o em algo controlável. Capaz de ser inspecionado. Que possa gerar impostos. Aposto que essa idéia, democrática e equilibrada, provoca mais receio do que a paparrotagem de um combate duro e efetivo envolvendo todas as forças policiais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário