Eu não retiro uma
linha, uma frase sequer, de vários elogios que fiz ao Senador Demóstenes Torres
no rádio, no jornal ou na televisão. Ele mantinha uma atuação correta, um
desempenho acima da média; era atento aos desmandos. Seu estilo me agradava
como jornalista e eleitor. Tanto que votei nele em todos os pleitos de que
participou. Ele foi o relator da Lei da Ficha Limpa, e até parlamentares da
base do governo – mesmo discordando de suas posições – o reconheciam como um
opositor sério e um jurista aplicado.
Evidente que hoje,
à luz de informações que o ligam a uma rede de contravenções, intrigas, troca
de favores e embromações condenáveis, causa repulsa saber que Demóstenes tenha
vivência em hábitos que condenava em sua rígida cartilha. Sua catastrófica
queda foi um abalo para os goianos de bem. Reafirmar que ele merece amargar no
inferno é exercitar a arte de chutar cadáver.
O que me dá asco
extra neste desgastante imbróglio é perceber a festa dos hipócritas de
carteirinha. Dispostos a tirar vantagens adicionais do episódio, abutres
encastelados no poder pretendem usar a incoerência do Senador para destruir de
vez a oposição no País. Os imorais usam o lixo em que Torres se envolveu para
divulgar a falsa ideia de que não tem nada de errado na latrina
deles. Chegam ao disparate, menosprezando a inteligência do contribuinte,
de afirmar que o mensalão não existiu e foi uma invenção do Cachoeira.
A farsa é tão
capciosa que enoja. Tanto que o dinheiro do Carlinhos Cachoeira
causa repulsa – pela origem bandida e fraudulenta – somente quando se enrosca
na algibeira da oposição. O ex-ministro Thomaz Bastos, célebre advogado que
conseguiu encobrir nebulosas operações dos que comemoram a ruína da oposição em
desgraça, apresenta-se faceiro disposto a defendê-lo. Ao que consta pela
bagatela de 15 milhões de reais. Toda essa bufunfa veio de onde? Vão dizer que
não importa a origem? Está limpo? Claro que está! Não cabe a quem recebe
inquirir a procedência da gaita. Tese válida e correta. Eu sei que Bastos esta
realizando seu trabalho e pouco se lixando em analisar de qual baú Cachoeira
tirou tão polpuda quantia.
Só que essa visão
não está sendo aplicada aos que se relacionaram com Carlinhos Cachoeira
usufruindo de sua influência e sua fortuna. Somente os adversários
deviam saber – não importa o favor prestado – que ele era um bicheiro conhecido
e recusar o seu dinheiro sujo. Sabe-se muito mais agora, e os espertos não
rejeitam. Na atual conjuntura, basta uma relação qualquer com o diabo do
Cachoeira – que na vida dupla se mostrou um empresário habilidoso – para ser
rotulado como um corrupto envolvido no esquema. Está
errado.
O momento é de refletir – uma vez que a oposição está minguando no cenário nacional – a razão pela qual os que são flagrados em delito, e se opõem ao petismo, estão sendo estorricados com tremenda rapidez, mas todos os processos envolvendo figuras do governo se arrastam em passo de tartaruga. Mesmo com a diligência da Polícia Federal – que até agora teve a sorte de fisgar apenas a oposição em gravações comprometedoras –, acusações cabeludas envolvendo ministros de Estado e uma babel de corruptos que saiu fumegando do governo rastejam com ares de que vai terminar em pizza.
No arremate,
eu não defendo Demóstenes Torres. Eu desejo que os rigores alcancem todos os
que já se envolveram em tramoias. Incluindo, principalmente, a turma do
mensalão. Abomino a galera do óleo de peroba que defende a falcatrua
de uns e a punição de outros. Nós que sempre admiramos Demóstenes, somos os
primeiros a exigir sua punição. Contudo, sem essa de caça às bruxas fingindo
que ele, somente o Senador de ética fajuta, é que representa a podridão
nacional.
Os tentáculos de
Carlinhos Cachoeira são mais amplos, de uma abrangência que certamente assusta
muita gente. Daí a necessidade de focar em bodes cujo berro seja capaz de
aplacar a opinião pública. Os que estão quietos na moita, ali ficam e estamos
conversados? Não concordo! O esquema deste Al Capone do Cerrado correu
frouxo durante 17 anos. Com a conivência de personalidades que, muito
convenientemente, fingem que nunca ouviram falar dele.
Doa
a quem doer, deixem o homem falar. Que investigadores minuciosos estejam
dispostos a chafurdar em todo o lamaçal, inclusive remexendo nas inúmeras
licitações, durante décadas, envolvendo a Delta e outras ramificações de
Cachoeira. Que todas as pedras sejam reviradas, viadutos examinados, lixo
revolvido, aprovações periciadas, construções analisadas e outras providências
reveladoras. Não seria nenhuma surpresa descobrir que impostura, fingimento e
simulação não fazem parte apenas do caráter do Senador moribundo. Ele é apenas
farinha de um mesmo saco que deu azar de ser jogada no ventilador. Bem feito,
mas quero mais. Oxalá as CPIs que prometem mexer no lodo tenham a coragem de
apontar, e exorcizar, todos os que participaram do butim.
cachoeira pagou alguns milhares de reais para o ex Comandante da Pm...e daí também??? só porque ele é seu amigo ??? pelo que já ouvi falar não recebeu dinheiro só por causa de promocoes , nao!!
ResponderExcluiruma vez li que " Falsos profetas surgirão, cuidado com eles, ore e vigie.
ResponderExcluirA oratoria do Torres fora bela e impecavel, mas ele é um falso profeta, profecia uma conduta e pratica outra.
Cabe a nos eleitores orar e vigiar em quem depositamos nossos votos, termos o cuidado de nao reeleger nenhum falso profeta ou a carroça da alegria continuará.