Até o
ex-senador Demóstenes Torres, que a meu ver, deveria esconder-se décadas
numa moita de mata densa, não resistiu e se entregou
ao deleite de cantarolar gostoso ao som de piano, degustando vinhos de safra
nobre como se nada tivesse acontecido. Afinal de contas, a farra em Brasília é tão
envolvente que não deixa margem para vergonha na cara. Os advogados milionários
que defendem o bando envolvido no mensalão
divertem-se num cabaré de
prazeres de causar inveja. Direito deles, claro. Ninguém se
preocupa com nada.
Experientes e acostumados com
os bastidores da corte, sabem que o maior escândalo
do “lulopetismo” vai terminar com uma pizza de receita
previsível. Na pior das hipóteses,
alguns vão amargar sentenças que azedam o ego e os
insere no rol da ficha suja, mas ninguém
amarga cadeia um dia sequer. Devolver o dinheiro que foi sugado dos cofres públicos é uma hipótese
mais risível do que escutar Demóstenes
cantando “Let me
try agaín”. Ninguém deixa de comer a sobremesa do Piantella imaginando tamanha
insensatez.
Nesse contexto fica uma boa
pergunta. Por que ainda estamos felizes com o circo armado em torno do
julgamento? Muito simples de responder. Mesmo que as penas sejam brandas ou, na
pior hipótese, os interesses bem articulados sejam capazes de inocentar
todos os que participaram da traquinagem, ainda resta à satisfação de
que gente muito poderosa foi obrigada a se curvar no banco dos réus. Só isso já valeu? Sim, trata-se de um tênue
mais significativo avanço.
Num País que
se atola na impunidade risonha e depravada, com os poderosos sempre debochando
do contribuinte, acaba sendo um alívio que
alguns deles tenham de se explicar ao Supremo Tribunal Federal. Evidentemente
ainda existe o sonho, uma esperança quase
infantil, que os Minístros, em peso, realizem condenações
exemplares que façam tremer corruptos de todos os matizes. Já pensaram a cara de Thomas Bastos, Kakay e
outros colegas acompanhando seus constituintes até o fundão de
uma cela? Seria o Nirvana.
Ao escrever este artigo,
me vem a mente o fabuloso filme do diretor Costa Gravas, "Z", cujo
desfecho, num julgamento histórico, coloca na cadeia
uma casta de intocáveis que jamais podiam imaginar que algum juiz se atreveria a
condena-los. Até hoje
tem gente que se comove e bate palmas ao término
da película. É claro que estamos falando de cinema no mais
alto refinamento de vender ilusões.
Na realidade “afrolusotupiniquim”, me
darei por satisfeito se o desfecho final não for
do estilo a incentivar uma mega festança com
Dirceu, Delúbio, Roberto Jefferson, Cia Ltda e fanfarra de advogados, arregaçando um
samba de fazer inveja aos cortejos da Marquês de
Sapucaí. Que os vinhos encomendados fiquem para outra ocasião. Amém.
Rosenwal Ferreira
Jornalista e Publicitário
@RosenwalF
Jornalista e Publicitário
@RosenwalF
rosenwal@rrassessoria.com
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