Seguidores

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A interminável farra em Brasília


     Até o ex-senador Demóstenes Torres, que a meu ver, deveria esconder-se décadas numa moita de mata densa, não resistiu e se entregou ao deleite de cantarolar gostoso ao som de piano, degustando vinhos de safra nobre como se nada tivesse acontecido. Afinal de contas, a farra em Brasília é tão envolvente que não deixa margem para vergonha na cara. Os advogados milionários que defendem o bando envolvido no mensalão divertem-se num cabaré de prazeres de causar inveja. Direito deles, claro. Ninguém se preocupa com nada.
   Experientes e acostumados com os bastidores da corte, sabem que o maior escândalo do lulopetismo vai terminar com uma pizza de receita previsível. Na pior das hipóteses, alguns vão amargar sentenças que azedam o ego e os insere no rol da ficha  suja, mas ninguém amarga cadeia um dia sequer. Devolver o dinheiro que foi sugado dos cofres públicos é uma hipótese mais risível do que escutar Demóstenes cantando Let me try agaín. Ninguém deixa de comer a sobremesa do Piantella imaginando tamanha insensatez.
    Nesse contexto fica uma boa pergunta. Por que ainda estamos felizes com o circo armado em torno do julgamento? Muito simples de responder. Mesmo que as penas sejam brandas ou, na pior hipótese, os interesses bem articulados sejam capazes de inocentar todos os que participaram da traquinagem, ainda resta à satisfação de que gente muito poderosa foi obrigada a se curvar no banco dos réus. Só isso já valeu? Sim, trata-se de um tênue mais significativo avanço.
 Num País que se atola na impunidade risonha e depravada, com os poderosos sempre debochando do contribuinte, acaba sendo um alívio que alguns deles tenham de se explicar ao Supremo Tribunal Federal. Evidentemente ainda existe o sonho, uma esperança quase infantil, que os Minístros, em peso, realizem condenações exemplares que façam tremer corruptos de todos os matizes. Já pensaram a cara de Thomas Bastos, Kakay e outros colegas acompanhando seus constituintes até o fundão de uma cela? Seria o Nirvana.
    Ao escrever este artigo, me vem a mente o fabuloso filme do diretor Costa Gravas, "Z", cujo desfecho, num julgamento histórico, coloca na cadeia uma casta de intocáveis que jamais podiam imaginar que algum juiz se atreveria a condena-los. Até hoje tem gente que se comove e bate palmas ao término da película. É claro que estamos falando de cinema no mais alto refinamento de vender ilusões.
   Na realidade afrolusotupiniquim, me darei por satisfeito se o desfecho final não for do estilo a incentivar uma mega festança com Dirceu, Delúbio, Roberto Jefferson, Cia Ltda e fanfarra de advogados, arregaçando um samba de fazer inveja aos cortejos da Marquês de Sapucaí. Que os vinhos encomendados fiquem para outra ocasião. Amém.

Rosenwal Ferreira
Jornalista e Publicitário
@RosenwalF
rosenwal@rrassessoria.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário