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quinta-feira, 12 de maio de 2011

O inferno dos sons

Filósofo de boas instruções, São Francisco de Assis dá a seguinte receita: “comece fazendo o necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível”. A exemplo do que já ocorreu em outras cidades do país, os vereadores de Goiânia bem que podiam dar os primeiros passos na difícil jornada de proibir definitivamente os sistemas de som que infernizam a vida dos moradores. Como muitos deles ainda acreditam no poder dos megafones, urrando nas residências dos eleitores, podiam começar delimitando dias e horários para o exercício desse estilo de atraso comunitário.
Com mínimo de respeitos às crianças, idosos e trabalhadores noturnos, podiam limitar o início da ensurdecedora gritaria para após as dez horas da manhã e proibir a zorra nos finais de semana. A prática antiquada de se comunicar aos berros – um resíduo arcaico de quando não existiam emissoras de rádios e TV – é uma absurda invasão de privacidade da qual não podemos nos defender.
Aos que ainda protegem essa aberração, fica uma pergunta: qual a diferença entre os famigerados carros particulares – as tais boates ambulantes com repertório de mau gosto – e os veículos de propaganda? Nenhuma. Ambos realizam o assassinato do sossego cotidiano, impondo e arrotando músicas e comunicados que ninguém pediu para ouvir.
Se a Câmara Municipal tiver a coragem de estabelecer limites mais rígidos, será mais fácil imaginar o impossível, banindo de vez a zoeira infernal. É claro que existem os que ganham dinheiro e sobrevivem com a poluição sonora. E daí? Infelizmente vão ter que se virar em outra atividade e deixar de estuprar nossos tímpanos. Justificar a manutenção da barulheira com o argumento dos empregos é o mesmo que legitimar bares ruidosos, trios elétricos em locais inapropriados, venda de produtos contrabandeados e assim por diante. Em cada tópico que urge organizar, tem alguém faturando.
Nenhum país de primeiro mundo – pode investigar – permite publicidade em alto falantes. Somente nas emergências é que essas geringonças são autorizadas. Por que o Brasil tem que ser diferente? Não merecemos respeito? O Zé Povinho se delicia com berros na sala de jantar? Com exceção dos tarados da gritadeira (e de políticos que usam a artimanha no alpendre dos outros) não conheço um único cidadão ético que aprova a utilização dos infames amplificadores. Não existindo leis, nem vergonha na cara, sequer tampões de ouvido resolvem o problema.


Rosenwal Ferreira é Jornalista e Publicitário
Twitter: @rosenwalf

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