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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Casamento gay. Virou bagunça geral?

Num de seus momentos bem humorados de reflexão, o filósofo Sócrates alfinetou o seguinte: “Com certeza se casem. Se casar com uma boa mulher, será um homem feliz. Se casar com uma má se converterá em filósofo”. No caso dele, não parece que se tornou um pensador fecundo vítima de uma companheira de má fortuna. Se estivesse vivo, o sábio grego teria que reformular sua ironia. Algumas nações, entre as quais agora se inclui o Brasil, abriram as comportas para o casamento batizado como homoafetivo. Eufemismos à parte, contrariando o saudoso Tim Maia, não só vale dançar, mas casar homem com homem e mulher com mulher.
Bagunçou geral? Para os, digamos assim, modernosos, tudo é muito simples, lógico e faz parte de um mundo sem preconceitos. Nesse aspecto acho válido. Abomino discriminações de qualquer natureza e entendo que uniões entre pessoas que se amam é algo de notável produtividade. Seria hipocrisia fingir que o casamento em si, o rito no civil ou religioso, não me incomoda. Atraso meu? Deve ser. Vou ter que me acostumar.
O diabo é que a lei, a não ser que seja modificada, está tão obsoleta quanto eu. O artigo 1.514 do código civil diz: “o casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam perante o juiz sua vontade de estabelecer o vínculo conjugal e o juiz os declara casados”. Existe alguma dúvida de que se trata de uma união entre sexos opostos? Parece-me que não.
Qual o problema em esquecer o texto legal? No caso em particular nenhum. Em nada afeta o cotidiano das famílias o casório entre gays. Mas se a moda pega? Qual será a próximo caso em que íntegra da lei será flexibilizada? Assusta-me pensar.
Para não irritar os ativistas gays, muitos dos quais são amigos de profissão, quero deixar cristalina minha posição favorável a extensão de direitos dos casais heteros (herança, clubes, planos de saúde etc.) aos pares gays. Considero desnecessário – parece-me ir longe demais – adotar com naturalidade o casamento.
Creio ser um direito discordar nesse tópico. Apesar de que estamos vivendo um momento delicado, no qual qualquer crítica aciona o termo homofóbico, um rótulo perigoso capaz de incitar iradas perseguições. Erro tão grotesco quanta à perseguição aos gays. É necessário preservar, também e principalmente, a prerrogativa das maiorias discordarem.
De qualquer forma, O Ministro Aires Brito afirmou que a decisão do Supremo (sobre a união homossexual) “vale por si, sem precisar de legislação ou de adendos”. Sendo assim, que os 80 mil casais gays tenham um bom matrimônio ou se tornem filósofos. Mas, por favor, não me obriguem a considerar essa união bonita esteticamente, ou como uma evolução da família. Aceitação não precisa se transformar em concordância. Ou precisa?

Rosenwal Ferreira é Jornalista e Publicitário
Twitter: @rosenwalf

2 comentários:

  1. "Qual será a próximo caso em que íntegra da lei será flexibilizada? Assusta-me pensar."

    Caro Rosenwal,
    não é anomalia nenhuma uma lei infraconstitucional se flexibilizar para atender os princípios da nossa Constituição, não veja isso como bagunça e sim como adequação. A Constituição é a norma maior, e qualquer outra lei deve estar com ela compatível.

    @leonardo_lemes

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  2. interessante seus comentários. concordo que aceitação não é concordar. e temos realmente que tomar cuidado, pois qualquer discordancia pode despertar a ira dos novos "normais". acho verdadeiramente um absurdo o casamento. e duvido que exista um pai ou uma mãe que diga, ao saber que o filho ou filha é gay: "que lindo meu filho é gay".

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